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07 abril, 2013











Espiritualidade na infância






Por Maria João Ataíde, Professora de Pedagogia na ESEI Maria Ulrich

Observando o que se passa na nossa sociedade apressada e consumista, verificamos que nela existe um grande vazio espiritual. Mesmo quando as famílias dizem professar uma religião, o tempo e o lugar que esta ocupa no dia-a-dia cheio de stress é quase irrelevante

Como vão as crianças construir uma vida interior e uma espiritualidade rica no tropel dos transportes e dos horários que lhes impomos? Como poderão procurar e experimentar a transcendência, aquilo que está para além da mera sobrevivência diária, do aqui e agora, dando assim um sentido à vida, à sua existência e ao Mundo a que pertencem?
Ora crescer, crescer em harmonia, não é apenas ser capaz de andar e de falar como os outros seres humanos. Não é só frequentar a escola, aprender a ler, escrever e contar, dominar uma profissão, ganhar um salário. Toda a criança ao crescer, ao desenvolver-se, vai construindo uma identidade à medida que descobre o seu universo, identidade essa que assenta na compreensão da sua própria origem, das suas raízes e na sua fé e esperança no futuro.
O facto de nós, pais, avós, professores, não termos optado por alguma religião não nos retira a responsabilidade perante o crescimento espiritual das nossas crianças. O vazio em que muitas vezes são educadas porque queremos ser neutros torna-se mais tarde insustentável para muitos adolescentes e adultos que, não encontrando significado para as contradições da vida atual, não conseguindo dar um sentido ao sofrimento ou à solidão, procuram frequentemente na droga, na violência ou mesmo no suIcÍdio uma razão ou uma saída para algo que não sabem interpretar.

Como educar a espiritualidade?
Toda a criança nasce com uma dimensão espiritual, com potencialidades neste domínio que não depende de ela vir a professar ou não uma religião. Os autores, crentes e agnósticos, que estudam o desenvolvimento infantil estão de acordo neste ponto e então podemos afirmar que é a escolha e a vivência de uma religião que vai ter na base a espiritualidade que foi desde cedo desenvolvida.
As potencialidades que a criança manifesta desde o nascimento e que constituem a sua dimensão espiritual, necessitam no entanto de estímulo e apoio para se desenvolverem e aprofundarem: a capacidade humana para amar e o desejo de ser amada, a capacidade de pensar, de refletir interrogando-se constantemente, a capacidade de julgar e decidir, o tão necessário espírito crítico, a capacidade de comunicar entendendo os outros e fazendo-se entender, eis o que dá aos humanos uma dignidade espiritual e uma dimensão transcendente. Só que estas maravilhosas aptidões são, nas nossas crianças, como sementes e ao mesmo tempo fontes de energia... para se tornarem capacidades plenas e vigorosas requerem, como as plantas, um bom ambiente e estímulo adequado.

Cultivar a vida interior
É a vida interior que vai permitir à criança tornar-se a pouco e pouco mais autônoma, saber escolher e ir construindo a sua própria consciência do que é Bem e do que é Mal, dos seus valores e dos seus limites. Para isso necessita de ter tempos e espaços seus, desde muito cedo, e é essencial o respeito que pais e educadores conseguem ter pelos sentimentos que a criança manifesta, não a crivando de perguntas quando está mais calada ou mesmo triste, pensativa ou, pelo contrário, muito alegre. Quando brinca sozinha com os seus bonecos. Ou quando começa a querer estar de porta fechada na casa de banho. Os momentos de silêncio são tão enriquecedores para a intimidade como uma boa conversa e são marcantes para os mais pequenos.
Aqui se enunciam apenas alguns aspectos da espiritualidade na infância, mas ela é tecida por muitos outros, subtis e facilmente abafados pelo consumismo e pela agitação da vida quotidiana. É importante ajudarmos as crianças a desenvolverem a sua espiritualidade, pois será através dela que conseguirão sobreviver aos altos e baixos da vida e que irão entender os fenômenos em que hão-de participar. É importante passar-lhes o testemunho daquilo em que acreditamos, da nossa procura da verdade, pois assim podem aprender a lidar com as grandes questões da existência: a procura da felicidade, a necessidade de amar e ser amada, o medo da morte, a revolta perante o sofrimento, a esperança num mundo melhor.

Ideias para estimulá-la
- Muitas crianças crescem sem irmãos e por vezes em famílias muito reduzidas. Têm poucas oportunidades de convívio com idosos e de verem crescer outras crianças, o que não lhes permite  aprender como se cuida de alguém. Sempre que possível ponham-nas em contacto com vizinhos, familiares e amigos com quem  possam fazer essas experiências, pensando com elas como ajudar quem tem pouca saúde e está cansado ou então como se pode entreter um bebé durante um encontro de família para que os adultos tenham uns minutos de descanso.
- Importante, também, é saber escutar uma criança. Reconhecer aqueles momentos fundamentais em que ela nos diz o que lhe vai na alma, em que faz uma pergunta que nos espanta pela sua profundidade e que dá origem a uma conversa tão rica e significativa... e isto não se pode programar! Muitas vezes temos de saber interromper uma tarefa, uma deslocação, aproveitando a intimidade que se cria com o nosso filho ou com um menino do nosso grupo de crianças pois só assim o ficamos a conhecer melhor e ele aprende que pode confiar em nós. Sem esquecer que uma boa conversa tem de ter pausas, ou seja, tempos de silêncio que nos permitem refletir e compreender a comunicação com o outro.
- Para muitos pais e também para os educadores e professores, não é fácil perspectivar no seu dia-a-dia com as crianças tempos e ocasiões  dedicados à espiritualidade... um bom exemplo é a época natalícia. Será que por serem pequenas as crianças só recebem as ambicionadas prendas, ou é possível levá-las a dar? A resposta está nas ideias criativas que muitos educadores encontram para os meninos fazerem o presente de Natal para os pais! Como vão para casa orgulhosos e com que alegria vêem os pais a desembrulhar a moldura que pintaram ou o anjinho de barro para pôr no presépio! Pois também em casa as crianças poderão fazer com as suas pequenas mãos uma lembrança para a educadora, para a avó, para o padrinho, nem que seja uns biscoitos amassados e recortados por elas, com  que vão enternecer os adultos a quem os oferecerem. Assim, o Natal ganha outro sentido e os meninos aprendem a pensar nos outros antes de satisfazerem os seus caprichos.
- O ritmo a que vivemos não joga a favor da intimidade nem da dimensão espiritual da vida! Cada vez encaixamos mais tarefas e mais atividades no nosso dia-a-dia e na rotina dos mais novos... os pediatras afirmam que as crianças já sofrem de stress! E muitas têm pouco tempo até para brincar. Mas para olharmos para dentro de nós, para enriquecermos a nossa vida interior, para entendermos melhor os outros, é necessário calma, silêncio e disponibilidade. Um desafio que fica para os pais e educadores, que consigam mudar alguma coisa na organização das suas vidas, permitindo assim criar um envolvimento mais humano e caloroso, uma intimidade autêntica com as suas crianças.